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quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Feliz Natal e Próspero Ano Novo













terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Uma Segunda Oportunidade - Conto De Natal



Havia uma pequena fogueira que ainda oferecia um pouco da sua chama. Era de noite e o seu crepitar alongava sombras tornando-as estranhas a quem pertenciam.
Umas mãos cansadas, extremamente vividas pela vida, buscavam ainda um pouco da sua magia. Um pouco de calor exterior que não daria para aquecer o outro que também sentia.
O dia era mais um como os outros que por si desfilavam, apenas mais um na sua vida, já um pouco longa e sofrida. Dos olhos ainda faiscava vida; mas a expressão era mais apagada do que aquela à qual se aquecia.
Hoje olhavam-no como se fosse um farrapo velho e gasto pelo uso. Não lhe perguntavam se estava bem; o outro lado do passeio era mais seguro. Sobrevivia já sem grandes expectativas de remediar a sua vida. Debaixo daquelas vestes de mendigo; daquele ar cansado, do desenho de uma boca marcada duramente pelas adversidades; batia um coração quente e harmonioso. Ainda não era assim tão velho; embora o aparentasse.

As luzes piscavam nervosas nas montras e as suas cores atraiam. Cores que emanavam igualmente dos papéis coloridos, das bolas e das fitas que alegremente pendiam criando por vezes; algumas pequenas obras de arte de algum lojista mais criativo e imaginativo. O comércio estava em alta; era a época de vender primeiro com os olhos e e depois fazer chegar o fruto das suas decorações.
O consumo ia-se fazendo, pela massa ávida de possuir e entulhar objectos; úteis ou não; necessários ou não; ou ainda procurados ou simplesmente sofríveis para dar àquela tia aborrecida, à cunhada rabugenta; ou também a alguém querido e merecedor, claro! Bem hajam, pois!

Aquela figura cinzenta mirava o mundo que lhe passava ao lado, parecendo negar-lhe a entrada no mesmo. Ele também pertencia a esse mundo; mas fora engolido, usado, mastigado e jogado fora como lixo terminal. Hoje provocava reacções tão distintas como: receio, medo e era ignorado; por vezes mesmo invisível; ou até pena e alguma compaixão pelos mais valentes que de si se acercavam e lhe ofereciam um pouco do que possuíam. Era incompreendido pela maioria; mas uma pequena maioria ainda vingava, e ainda bem que assim era. Sentou-se num banco de jardim; o frio começava a fazer-se sentir. As flores e as ervas começavam a ter uma película gelada que as cobria. Sentiu um arrepio, afinal não tinha tanta roupa assim no corpo. Tentou abstrair-se da situação e do que o rodeava. Voltou atrás no tempo, onde uma personagem bem parecida, de roupas simples mas com uma certa elegância e impecavelmente arranjadas lhe surgiu nas janelas da mente. Um sorriso capaz de derreter alcatrão; uns olhos intensos e belos faiscavam inteligência e vida em desmedida. Um rosto digno de um actor, daqueles a que as meninas suspiram enchem as paredes dos quartos de fotos e não perdem a estreia de qualquer filme. Sim senhora, uma estampa.

- Roberto, amo-te! - Por detrás do homem bem parecido surgiu uma mulher igualmente bela. Este pareceu como que iluminar-se de felicidade.

O "flash" esfumou-se e o mendigo voltou ao tempo presente. Por entre as suas vestes, a sua aparência deu para perceber que debaixo delas era o homem que lhe surgira nas imagens da mente.

O que sucedera? Que voltas a vida deu e tornou aquele belo ser no farrapo que era hoje?

 Parte II

A vida tem razões que a própria razão desconhece.
Nada é eterno ou garantido.

Roberto sucumbira à agressividade da vida; fora ultrapassado pela mesma. Não era único, nem seria o último a sofrer por tal. Tivera pedras e pedregulhos que lhe dificultavam a sua passagem pelo mundo. Não pedira para sofrer e sentir na pele as provações e injustiças que se lhe entranhavam na mente e no coração. Chorara vezes sem conta, magoado, triste; sentindo-se injustiçado e revoltado com a vida, com tudo e com todos. Depois dessa "fúria" nascera uma calmaria, uma compreensão ou iluminação que o tornaram mais conhecedor e sabedor da vida humana. Já não buscava por vingança; ou até culpava alguém ou algo; aprendera a viver com o que poderia esperar; e a esperança ainda não lhe fugira.

O frio e a humidade iam entrando no seu corpo e naquele banco a dormência parecia querer domina-lo. A fraqueza do estômago faziam-no sentir-se mal  e a cabeça parecia navegar num estado febril. Andava entre o antes e o agora; nas suas memórias. As ruas estavam calmas por aqueles lados, a maioria das pessoas encontravam-se nas suas casas; com as chaminés a fumegarem ou no mínimo com os aquecimentos ligados. Abraçados ou não ao calor do corpo com quem partilhavam as suas existências. Também já tivera um lar assim, e nesse aconchego, nesta época, vivera momentos que lhe são queridos mas que acabam por lhe aleijar a alma.
Espreitamos uma casa arranjada, com uma mesa farta em comida. Guloseimas e bolos da época, com as tradicionais iguarias natalícias. Uma árvore com as prendas debaixo, uma lareira crepitante; dois rostinhos angelicais, que fazem brincadeiras em conjunto e dois pares de olhos adultos a absorverem com alegria as suas façanhas. Essa vida parecia agora tão distante. Retalhos que lhe adentravam constantemente na cabeça. Que lhe faziam brotar ainda sal dos seus belos olhos. Levou uma mão ao rosto e limpou o molhado que o inundava. Acabou por se ajeitar naquele frio e sujo banco de jardim, de cor desbotada e com alguma folha de jornal e papelão acabou de forma fetal entre turbulências de memórias adormecer já tardiamente.

Parte III

Uma luz ao fim do túnel!
Deus fecha uma porta, mas abre sempre uma janela!

O dia clareou ; o burburinho crescia de intensidade; a vida apressada e agitada começava a acontecer. Todos os dias era assim e deveria de o ser assim sempre sem que algo o viesse alterar. Numa árvore perto um pequeno pássaro cantava algo e isso era um som bem vindo. Algo tão pequeno com tamanha voz, era impressionante. A natureza era bela, pura, sem artifícios. O seu ciclo deveria de ser perfeito, se a imperfeição não tivesse que fazer falta igualmente na mesma.
Acordara, aquela noite passara e continuava vivo, sem nada de ruim lhe ter acontecido. Isso deixava-o feliz, porque dormir e viver ao relento pode ter as suas consequências.

O dia 25 seria nessa noite. As notícias davam como uma noite extremamente fria que se avizinhava. Gostaria de beber e comer algo quente, iria ao centro de acolhimento. Um banho quente também lhe lavaria o peso das injustiças dos ombros. Iria sentir-se mais limpo e leve.
Entrou no centro e deram-lhe algo quente para forrar o fraco estômago. Parecia que este lhe queimava pela falta de uso afinal que lhe fazia. Precisava de um banho. Uma rapariga de olhos grandes e expressivos acercou-se dele e num sorriso doce perguntou-lhe:
- Olá senhor Roberto, que tal esta camisola e este casaco quentinho para si?
Roberto esboçou um pálido e agradecido sorriso aceitando a oferta generosa afirmando:
- Menina Patricia é muito simpática. Obrigado pela sua gentileza.
Não sabia porquê mas aquele rosto tinha algo de familiar. Sentia um carinho especial por aquela jovem; e não era por ela ser sempre um anjo. Havia algo nela que o fazia sentir-se bem e protector. Encaminhou-se para as casas de banho. Retirou a roupa gasta, abriu a água e ficou algum tempo a deixa-la escorrer pelas costas e depois pelo rosto. O quente sabia-lhe tão bem e a sujidade fisica e não só escoavam pelo ralo. Levou então algum tempo nas suas tarefas de higiene. De barba feita, lavadinho e nova roupa quentinha; até se sentiu um príncipe. Esboçou um pequeno sorriso; como que aprovando o que via no espelho. Saiu da casa de banho. Deu de caras com Patricia que num olhar de aprovação e agrado lhe disse sorridente:
- Uau... está muito bonito senhor Roberto.
Espantado com as palavras da rapariga; e já não ouvia algo parecido há tanto tempo, sorriu novamente, agradeceu e saiu do centro.
Lá fora o frio persistia; ou não fosse o costumado em vésperas de Natal. Do outro lado da rua uma mulher de cabelos compridos, soltos e negros olhava-o atentamente. O seu olhar era penetrante mas doce; parecia falar com os olhos. Tinha uma blusa às riscas coloridas e na sua frente uma concertina, que começou a tocar e a melodia era tão atraente e envolvente como ela. Não conseguia parar de a olhar e o tempo havia parado sem nada em volta o abstrair. Aos ouvidos chegou-lhe uma voz, era da mulher misteriosa, mas ela não movia os lábios. Apenas sorria e parecia comunicar-lhe por telepatia.
- Roberto, não temas. A tua vida vai mudar; vais ser justamente recompensado por o que criaste até hoje. O teu amor pela tua família, a tua bondade... Vais ter uma segunda oportunidade! - Dito isto, as notas musicais ganharam vida, iluminaram-se num clarão de luz e cor. O acordeão inflamou-se, e no meio daquelas luzes viu-se num futuro próximo, apromado, com um franco sorriso de felicidade, ladeado por dois jovens; que o acarinhavam; uma rapariga e um rapaz. Estavam de costas e não lhes consegiu ver o rosto. Tudo se esfumou então, a bela mulher já não se encontrava no passeio do outro lado. Sonhara? Enlouquecera? Não sabia. Seria um anjo que lhe aparecera?
Permaneceu assim inerte por algum tempo.Queria acreditar no que a mente lhe mostrara. Queria voltar a ser feliz, se isso pudesse ser possível. Então relembrou penosamente o fardo que lhe pesava arduamente nos ombros. Há dez anos atrás era um homem extremamente feliz. Amava e era amado, eram como duas almas gémias e unas. Tiveram dois filhos; um rapaz e uma rapariga; lindos, doces e inteligentes. A vida corria-lhe bem, era bem sucedido na sua profissão e adorava o que fazia. Podia dar uma bela e confortável vida à sua família. Foi quando num dia, estando a trabalhar, recebera a notícia que a sua família ao fazer uma viagem maritima, um pequeno cruzeiro, como prenda pelos bons estudos das crianças; o mar ficou encrespado, uma tempestade estalou e o barco naufragou. Houve sobreviventes, mas nenhum dos seus foi encontrado até ao segundo dia, o corpo da sua Amanda deu à costa. Dos filhos nunca  teve um leve traço de notícias e até hoje teimava em ler os jornais que encontrava; em busca de algo que indicasse que tinham sobrevivido. Que voltaria a estar com eles. O mais provável é que os tivesse perdido para sempre. Vendera o que possuia passados alguns meses, desistira da sua profissão e tornou-se um viajante sem rumo. Apenas queria encontrar paz, certezas, respostas; o porquê do seu infortunio. Nada mais lhe interessava, nem ele próprio.  Deixou aliás de se preocupar consigo; buscou de início uma forma de morrer também: mas das duas uma, nunca a encontrou ou foi incapaz de a levar em frente. Não devia tirar uma vida, foi educado assim e simplesmente não era capaz de o fazer. Chorara cupiosamente; veio então a altura em que começou a olhar para dentro de si mesmo, tentando compreender a vida e não batalhar contra ela. Começou a perscrutar a mesma, a ver o que dantes não via, e a tentar transmitir isso aos outros; quando lhe deixavam, claro.
Continuava ali de pé, sem se mover, absorto em imagens, palavras; não compreendendo o que a "voz" lhe dissera. Uma segunda oportunidade? Ser feliz novamente? Seria um absurdo? A voz fez-se ouvir novamente na sua mente e a mulher-anjo; como passou a chamá-la afirmou: "- Roberto, tudo é possível... mesmo a felicidade! Acredita!".

Alguém lhe tocou levemente no braço, espantado viu Patricia ao seu lado. Ela também não sabia explicar mas sentia-se fortemente ligada àquele simpático e triste mendigo. Parecia que algo a fazia aproximar-se dele, e bricalhona disse:
- Senhor Roberto, se não fosse a diferença de idades, perguntava-lhe se não queria ser meu namorado. Um homem bonito como você deve ter partido alguns corações, não? - Piscou-lhe o olho divertida.
- Ora... Eu não acredito que também não tenha um namorado. Caso contrário devem de haver por ai muitos candidatos. - Disse um pouco embaraçado; mas agradado com a presença da jovem. Ela podia ser sua filha, e por acaso... até tinha o mesmo nome.
- Vou até casa de uma senhora que muito nos ajuda nesta altura do ano. Dando um pouco de alento a quem tanto precisa. Umas roupas e alguma comida. Vou precisar de ajuda. Estava a pensar... o Roberto quer me ajudar? - Os olhos pareciam alegres como os de uma criança. Roberto não foi capaz de lhe dizer que não. Fazia-lhe muito bem a presença da jovem. A sua dor parecia diminuir um pouco.  Patricia continuou em resposta sobre ter ou não um namorado:
- Tenho dezoito anos, ainda não estou a pensar muito a sério nessas coisas de namoros. Estou muito bem assim por enquanto. Quero aproveitar a vida, estudar e tentar ser alguém neste mundo. Bem... o meu irmão também está lá, na casa da tal senhora, mas faz falta lá ir com um carro para trazer as coisas e ir buscá-lo; e uma ajuda extra é sempre bem vinda. - Sorriu na direcção de Roberto.
Partiram então de carro, um peugeot 106 branco muito estimado e luzidente. No trajecto foram conversando e conhecendo um pouco mais um do outro. Lá chegados um jovem muito belo aparentendo não mais de vinte anos, estava à sua espera. Roberto pareceu ter recebido um choque quando viu o rosto deste. Patricia vendo-o mudar de cor ficou preocupada e perguntou-lhe:
- Roberto sente-se bem?
Este perdera a força nas pernas e sentia-se desfalecer. Não era falta de energia pela ausência de comida. Simplesmente, aquele jovem, o seu rosto tocara-o demais. O jovem, de seu nome Ricardo apressou-se a agarrá-lo para que não caisse no chão. Sentado num dos bancos da frente do carro; Roberto iria conhecer uma surpresa muito agradável. Estranhamente Ricardo também o olhava  sentindo ter algo em comum com ele. As parecenças eram notórias, tanto que a dita senhora que iam visitar para buscar mantimentos e afins; afirmou espantada:
- Vocês parecem pai e filho. São tão parecidos. Não o poderiam ser mais!
Foi naquele tempo e naquele espaço que Roberto contou então a história da sua vida. Foi então também que os jovens disseram que sofreram um bloqueio em crianças quando tiveram um acidente de barco, num cruzeiro. Deram a uma margem sem saberem quem eram; andaram dois ou três dias perdidos sem acharem viva alma. Alimentaram-se do que encontraram de frutas pelo caminho. Foram dar a uma casa campesina, os seus ocupantes; um casal simpático sem filhos, os criaram como sendo deles. Aos poucos as recordações voltaram e desde essa altura tentaram encontrar o rasto do pai desaparecido.
Roberto não queria acreditar no que ouvia, parecia um sonho; inrreal. Lembrou-se então das palavras da mulher-anjo; do que vira sobre o seu futuro próximo e compreendeu que sempre era verdade, a vida estava a dar-lhe... uma segunda oportunidade. Começou a chorar e a rir sem controlar as emoções. Agarrados a si os dois jovens também choravam. Bem perto a senhora com um lenço na mão dizia entre lágrimas:
- Adoro finais felizes! Isto é um milagre de Natal! Algum anjo deve de ser o seu autor.
Do outro lado do passeio Roberto viu surgir por instantes a mulher-anjo, com um sorriso rasgado para si. Desaparecendo de seguida tal como aparecera. Roberto ainda proferiu-lhe baixinho; banhado em lágrimas de alegria e profundamente grato pela dádiva que recebera:
- Obrigado!

Roberto reatou a sua vida; tinha agora motivos de sobra para a querer viver e aproveitar ao máximo o que de bom lhe tinha para ofertar. Voltou a ter algo por que viver e lutar; os seus rebentos, agora já eram adultos; mas seriam sempre os seus filhotes. A sua Amanda haveria de estar feliz por eles. Como gostaria de a ter ali com ele. Esse Natal era o mais feliz que tivera nos últimos dez anos.

A vida dera-lhe uma segunda chance! Há que acreditar na esperança e nos sonhos!
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Espero que o meu conto de Natal tenha agradado. Estas linhas servem sem dúvida para eu ir praticando e ansiar por "voos mais altos" na escrita. Assim espero.
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Um Feliz Natal E Um Maravilhoso Ano Novo, Por Quem Aqui Passar!

Foto: Show Must Go On - Autor: Viesturs Link - Fonte: Olhares

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Cantiga De Um Cisne




Hoje como ontem toco a mesma melodia na altura do inverno. Parto para lugares mais convidativos; onde o Sol aquece.

Lá longe, onde os meus olhos não chegam, há todo um mundo palpitante de vida e já não desconhecido. No coração um aperto que me tira o fôlego. Quero ficar, não quero partir novamente; mas o tempo urge e com ele o frio e a neve que seriam desastrosos se teimasse em permanecer. As amarras eram partidas novamente, rumo aos altos céus, por entre nuvens e estrelas. Do outro lado iria encontrar talvez mudanças, quem sabe? Mais um ano sempre igual, sempre repartido entre dois pontos; um de partida e outro de chegada. No entanto este seria diferente; já nada me interessava. Sentia-me só com uma cratera de vazio e dor no peito. Estava só, perdido, sem o aconchego do amor. A morte veio sem esperar numa noite de luar. O meu pescoço enrroscado no do meu amor; aconchegados no nosso leito; encontrou um frio gélido de manhã do corpo amado. Um ataque cardiaco levara-me toda a alegria e vontade de existir. Parto sem vontade própria, sem o futuro me dizer algo. Parto só com uma asa; porque falta-me o meu apoio, o meu alento. Voltarei, talvez com a paz necessária; ou talvez não. Por ora... quero apenas voar! 

Origem da foto: The Shaw Song - Autor: Regiane Cristina - Fonte: Olhares